segunda-feira, 28 de março de 2011

Já fui uma semente, que brotava lentamente em busca do sol… Lá debaixo da terra procurava as profundezas e o infinito, queria criar raízes sólidas, porém subir cada vez mais alto em busca de liberdade… Sonhava… E lá no fundo de meus sonhos, delirava… Queria estar ali, queria sair dali, crescer, buscar novos horizontes, conhecer outras terras, outras raízes, outras sementes, fazer parte de outras realidades… Viver… Interagir… Fui arbusto que continuava a buscar o chão e o céu concomitantemente, sonhava ter um caule resistente, sustentar galhos e folhas, dar frutos… E dos frutos, novas sementes… E das sementes, novos arbustos sonhadores… Cheguei a ser árvore, com raízes profundas, acolhi outros seres, igualmente, dando-lhes sombra, porém, um vegetal não pode mover-se por si só, depende da força motris de outros seres, do vento, das chuvas. Não pode partilhar sombra e frutos além dos limites estipulados pela lei da natureza… Mas eu queria mais, não bastava ter raízes, buscar o solo e o céu… Não me agradava saber que a única coisa perceptível a outros seres era a sombra, ignorando todo o tempo, esforço e dedicação necessários para produzir este merecido conforto, que por sua vez, não deixa de ser momentâneo… Então, na tentativa de buscar o infinito, a tão sonhada liberdade, tornei-me folha, na copa, no ponto mais alto da minha árvore vital… E de lá, pude ver o mundo de uma nova perspectiva, tudo parecia diferente, vi sementes caindo, imaginando que estavam mergulhando no caos da podridão fétida, porém fértil e, em poco tempo, brotando novamente para a vida, buscando o infinito como eu… Vi arbustos curiosos, procurando descobrir o mundo ao seu redor, mas sem se descuidar da luz do sol nem da seiva da vida… Vi árvores anciãs, com raízes tão profundas que, a elas, já não importavam mais o que havia acima, ou nas profundezas… Minha árvore incomodou-se ao ver uma de suas folhas buscando o infinito, queria exclusividade, não se agradava ao vê-la, tão pequenina, interagindo com o resto do mundo, ninguém mais deveria ter o direito de olhar para aquela folha, a não ser que olhasse primeiro para a árvore grandiosa, magnânima e egoísta… Recusou-se a fornecer a seiva da vida e, involuntariamente desprendi-me… Ao desprender-me, cheguei ainda mais perto do céu, fui ao chão e ao céu novamente… Percebi que tudo é composto de ciclos, quando acaba um, começa o outro… O fim de um, não significa o fim de tudo, tampouco o começo de outro, não quer dizer o começo de tudo… Trata-se, apenas de uma transição e, através dela, a evolução, às vezes obscura, mas necessária… Hoje sou apenas uma folha, buscando o infinito, sem esquecer, porém das raízes e dos outros seres que encontrei nesta jornada… Uma entre tantas outras folhas que se desprenderam dos galhos em busca de liberdade… Uma entre tantas rejeitadas, simplesmente por quererem ser mais do que um reles fragmento de vegetal que, embalado pelo vento, bate continência diuturnamente para o mesmo tronco que se acha dono de todas as folhas… Sou só mais uma folha, livre deixando as palavras fluírem espalhadas pelo vento procurando outros seres a quem possam ser úteis… Vou levando a vida, fazendo minha parte a espera do dia em que o outono da vida me torne uma folha ceca e inerte. absorvida pela terra a fim de alimentar outra semente sonhadora como um dia fui… Sou apenas uma Folha… da Cidade… Márcio Roberto Goes

Linda essa cronica, mim identifiquei muito com ela.

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